quinta-feira, 13 de julho de 2017

SOBRE LULA E MORO

   
Os nove anos de prisão sentenciados por Sérgio Moro ao ex-presidente Lula, embora não tenham surpreendido ninguém, levantaram intenso debate em todo o país e também no exterior. Dentre todos os aspectos que podem ser debatidos a partir deste episódio, levantemos dois:

1- Lula foi derrotado nas três primeiras eleições presidenciais que disputou. Em 1989, 94 e 98 Lula perdeu por representar, com seu discurso e lugar de fala, uma ameaça ao sistema político putrefato. Lula gritava contra as elites oligárquicas e tinha uma proximidade muito profunda com os movimentos sindicais e sociais e com a população mais pobre do país. A elite, que usa o poder do capital e midiático que possui para comprar poder político, se valeu de todas as forças que pôde para impedir o operário de chegar ao posto de chefe do poder Executivo. 

Em 2002, no entanto, Lula deixou a trincheira. Prometeu diálogo com todos os focos de poder do país, chamou para ser seu vice um dos maiores empresários do Brasil e escreveu cartinha ao tal mercado financeiro prometendo não ser o bicho papão que eles temiam que fosse no exercício da presidência. Lula, pôde, enfim, atingir seu objetivo e tornou-se o primeiro ex-operário a subir a rampa do planalto para receber a faixa presidencial. 

No exercício da Presidência, Lula foi alem de uma relação de conciliação com a elite tão criticada por ele anteriormente. Fortaleceu as velhas oligarquias, a exemplo dos Sarney's aqui no Maranhão, e se filiou a engrenagem corrupta de condução do poder no país, na base do toma lá da cá com o Congresso Nacional. Não conseguiu avanços significativos em áreas sensíveis e graves como a reforma agrária, a reforma política e outras tantas importantes. Executou políticas econômicas que fizeram nascer uma nova classe média pautada no consumo, em vez de criar um modelo inclusivo, com base na difusão de bens e serviços capazes de materializar os direitos programáticos previstos na Constituição Federal e que são reduzidos ante a nefasta realidade de desigualdade social que nos abate. 

Diante de tudo isso, Lula merece críticas severas e não deveria mais ser visto como possível salvador da pátria, como é  por muitos brasileiros. Não há o que possa nos levar a crer que Lula pode fazer agora o que não fez quando esteve com o poder, de modo que é uma barca furada tomá-lo como herói, assim como é com qualquer outro político. 

2 - No caso específico da sentença, a questão é muito mais delicada. Todos nós sabemos o quão verossímil é a acusação do Ministério Público Federal. Lula estabeleceu em seus governos uma relação promíscua com as construtoras, em troca de poder para manter a tal "governabilidade", de modo que se eu tivesse que apostar que ele recebeu o tal triplex como contrapartida por negociatas em estatais, eu apostaria. 

No entanto, a sentença de Sérgio Moro é um erro. Dentro de um processo, principalmente o penal, diferente do que se passa dentro de nossas cabeças, não basta a obviedade. É necessário que esta obviedade possa ser demonstrada materialmente, para que fique provada. As 218 páginas da sentença de Moro servem para afagar os seus seguidores que o transformaram em um herói. No entanto, a sensação que fica é que o processo encerra-se do mesmo jeito que se iniciou: com uma denúncia, que apresenta indícios, mas sem demonstrar elementos probatórios. 

Todo este quadro é um tanto quanto preocupante, porque traduz um ativismo parcial do poder judiciário. Enquanto Cláudia Cruz, esposa de Eduardo Cunha, foi absolvida exatamente pela falta de elementos probatórios, neste processo, julgado pelo mesmo juiz, esta falta não representou o mesmo peso. Vamos ver as cenas do próximo capítulo e torcer para que, ao final da história toda, a sanha justiceira dos procuradores e do juiz da lava jato não leve o país a fortalecer ainda mais a já preocupante realidade de exceção, pois os danos podem ser graves e para todos nós. 

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